sexta-feira, 23 de abril de 2010

"A Dança" de Pablo Neruda


"Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio

Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Antes de amar-te, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e as coisas.
Nada contava nem tinha nome.
O mundo era do ar que esperava
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se dependiam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo.
Caído, abandonado, decaído,
Tudo era inalianavelmente alheio.
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono."


"Vi doentes cheios de vontade de viver

e sadios que definhavam angustiados

pelo medo de sofrer."

quarta-feira, 21 de abril de 2010

domingo, 11 de abril de 2010

Canção do Dia de Sempre

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...
Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...
E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...
(Mário Quintana)

domingo, 4 de abril de 2010

"De todos os males,
o meu difere;
Ele me alegra, eu me
regozijo nele;
Meu infortúnio é o que almejo
E minha dor, meu alimento!
Não há, portanto,
de que me queixar,
Pois que meu infortúnio
vem de minha vontade;
É meu querer que se torna
meu infortúnio,
Mas encontro
tanta alagria em minha dor,
Que estou doente
de delícias."

sábado, 3 de abril de 2010

Do Sofrimento e da Morte


De tous les maux,
le mien diffère;
Il me plait; je me réjouis
de lui;
Mon mal est ce que je veux
Et ma douleur est ma santé!
Je ne vois donc pas de
quoi je me plains,
Car mon mal me vient
de ma volonté;
C'est mon vouloir
que devient mon mal,
Mais j'ai tant d'aise à
vouloir ainsi
Que je souffre agréablement,
Et tant de joie dans
ma douleur
Que je suis malade avec
délices.
(Chrétien de Troyes)